31 de janeiro de 2022

A calmaria apática do hiato

Engraçado que o caos mental me permite divagar quilômetros de palavras que soam sem sentido, mas fazem todo. Essas ideias hibernadas apenas florescem em meio a sofreguidão. Por isso não vivo de arte. Fico pensando como seria a obrigação de escrever, desenhar ou sentir em momentos de calmaria. 

A espera confusa pelo platô instiga pensamentos invasores que, por conseguinte, compõem a salada de palavras lógica. Nessa implosiva sensação a malícia se perde, os reflexos se abolem e você se acha num labirinto inconstante. 

A tormenta passageira da lugar a um sereno hiato mental. A busca pelas palavras, a apatia aparente e a avolição presente se tornam uma, camuflada de plenitude. E você vive dela, nela e por ela. Achando que a tormenta criada por si deixou de existir. Mas ela está ali, carente, esperando o momento cíclico para voltar atormentar.

28 de janeiro de 2022

Flor da Maria

 Se fica prensado numa só ilusão que mente e distorce, a sanidade se perda em curvas fechadas. De prensa em prensa a qualidade se perde, as vantagens se esminguam e a coragem nem se tinha. Mas quando a flor aparece, traz um riso frouxo sem sentido. Tudo prensado, permanece; mas com a flor renascida e inalada, preenche o vazio que sobrou. Como a fotossíntese permite que uma planta traga luz após carbonizada? Ainda não sei, mas os lapsos de sobriedade se concretizaram. As ligações nervosas reativaram, os pensamentos em curso normal se reinstalaram. Daí por diante é levar, se entendendo, sem travas, sem prévias sensações. Somente indo.

27 de janeiro de 2022

Vive numa busca incessante

Jussara perguntou ao imaginário: Quando que tu vais embora? Nos últimos anos se viu presa numa busca incessante, achando e perdendo viciosamente. Se entregou, deixou seu coração, e partiu em busca do onírico. O céu estava num azul marinho, repleto de constelações que a guiavam na busca por Órion. No meio do caminho tropeçou, achou um pedaço seu que estava guardado; continuou. Foram galhos quebrados, criaturas hospedeiras que lhe sugavam, memórias pregressas recheando o vácuo mental. 

Andou sem fim, estava só, como sempre esteve, caminhando pelas vias públicas e concretadas após uma longa jornada gramínea. Olhava atônita, confusa, sem rumo. Reflexos do sol tornando carvão sua pele preta. Ju estava perdida. Virando pros lados sem lembrar o que procurar. Cruzou a rua de paralelepípedos e trombou num bondoso artrópode chamado Cajo. Semelhantes em quitina, numa afeição repentina, deram as patas. Jussara estava radiante sem saber porque. O reflexo solar em sua crosta refletia, agora, uma cintilante luz de alegria. Passaram um tempo juntos. Sorriram com seus dentes inexistentes, dançaram, dormiram, se juntaram. Passaram momentos felizes, de riso puro, escolhendo, sem escolher, um ao outro. Um dia ela acordou sem entender. Virou para os lados tentando lembrar onde ele se metera. Achou uma carta escrita a próprio punho:

“Minha querida, escolhi, por não me escolher, partir sem querer. Passe bem, um dia a gente se vê.”

Murchou. As pernas falharam, a garganta secou, olhos marejaram, e novamente se viu sozinha em busca do que já não se lembra mais. Sua cabeça estava lotada, de memórias e vontades, ocupando um espaço intocável. Remoeu e se escondeu num muro cheio de lamentações. Passou os dias sem fim numa completa solidão, olhando o interno sem ver nada. O vazio deixado, as incertezas guardadas, o sentimento em avulsão pronto pra rasgar. Mas um dia a quitina precisa renovar. Jussara sabe bem disso então aguarda por esse dia lembrando sem parar os momentos achados.

26 de janeiro de 2022

A pantanosa e imperfeita solução

 Meandros conflituosos que entre si desagregam. O curso bifurcado meio ao pântano escuro divide opiniões. O paradoxo formado pela escolha do caminho leva a um destino desconhecido nunca comentado. O barco branco, liso e calmo com uma descomunal vontade de instruir; o passageiro atônito e confuso. A busca incessante pelo autoconhecimento revela percursos escuros e nunca caminhados. Mas o barco te leva. Te guia sem falar. No escopo procurei seguir. As velas guiadas pelo forte vento escoado pelas voltas, intermináveis, já estavam fragilizadas. O barco tomou controle, percorreu todos cantos desse pântano amargo e cruel, que inferioriza e ridiculariza. É longe, parece não ter fim, os ideais e certezas se confundem e, quando você acha ter concluído, o redemoinho ilógico toma posse e mais uma vez você está perdido em si. No pântano das ilusões, onde as curvas não tem volta a tangente se dissolve, o barco afunda e você se afoga.

24 de janeiro de 2022

Cachoeira ilusória

 Delírios ilusórios fomentados por uma mente desejosa. A intenção final de concluir eleva os pensamentos a algo inatingível. O som alto implode a razão, as cores vibram em sintonia tonteante. A fome perde pro luto e o sono também. Perdido pelo labirinto, buscando entender a rota contra colisão, inevitável, perdi os sentidos. 

As águas um dia secam, a cacheira inundada da lugar a uma rocha sólida, imponente antes mesmo do fim, coberta por um fina e densa água salgada. Que brota sem avisar, num pestanejo recaindo sobre as maçãs, traindo o que você esperava não sentir.

Mas passou, o leito do rio ressecou, a terra adjacente arenizou, o vivo morreu e num rajado e cinzenta dia, sem forças deitei.

21 de janeiro de 2022

Cumulonimbus

 De certo o céu encoberto traz ao interno uma nebulosa chuva de ideias que transita e comensaliza as ligações do cíngulo. Traz a tona sensações e introspecções esquecidas. No tormento as ideias confusas consomem, dissolvem até que integram. Pela forma só de se virar a escala geométrica se instala, as ideias emaranhadas se tornam uma. Procurar se encontrar em meio a tormenta requer racionalidade e cumplicidade. Retomar pendências, incertezas. A calmaria póstuma que se alonga sem chegar, uma hora se atreve ensolarar. Os momentos que trovejam, que reluzem, mostram que, eventualmente o sol ressurge. Enquanto isso, deixa trovejar.

18 de janeiro de 2022

Alma camuflada

A água despejada da torneira em queda livre deixa sentir. O maço de cigarro vazio completo de uma espessa poeira inalante. O universo trazendo respostas às perguntas retóricas. A coincidência dos acasos da vida nos trazem a reflexão eterna de impotência. O cinzeiro cheio de mágoa e desejos incompletos. São as sobras do que não foi dito, mas deveria. Ele transborda e deixa cair todas possibilidades que achei estarem perdidas. A utopia de voltar a ser quem éramos comprime a real volatilidade vivida. Sem pernas para andar, o corpo se faz rastejar. A humilhação destilada queima a pele e completa o corpo num conjunto de novas cicatrizes camufladas. A corrida temporal que insiste em atrasar depleta a sanidade. Esperando vagamente a luz chegar, para me dizer, sem esconder, a realidade expressa no desejo. Sem saber o que dizer, mudo permaneceu. Na certeza absoluta que qualquer vencedor também vai perder.

16 de janeiro de 2022

Pelo panCo em São Paulo

Decidi espairecer, dar uma rolê,

Achei q caminhando a mente estática deixaria.

Percorri todos quilômetros, metros e centímetros

E todos eles foram sentindo.


Achei que as notas melódicas poderiam me dizer

Sobre tudo que eu queria percorrer

Mas a verdade é que tudo que eu eu vejo

Sinto

E toco

Me remete voce.


Não sei quanto tempo é tempo necessário,

Mas que incontáveis minutos são esses?

O relógio vai passando, mas o tempo não.

Os minutos são contados, mas na realidade não.


E me pego preso

Deslocado

Olhando pelos lados 

Tentando imaginar

Como vai ser sem.


Já tá sendo, e tá sendo bem bosta,

Todos os dias eu lembro.

E todos os dias eu queria dizer

O que o medo deixou ao relento.

14 de janeiro de 2022

Sensação infinda

A névoa mental instalada que percorre veias e tributárias transmutando sem sentido um calafrio de medonhas criaturas. Se alojam e circulam livremente por dentro da cárdia envolvendo todo segmento, trazendo pra si a sensação infinita da indiferença que nauseia. E não passa. O dia todo nesse cotidiano, o platô invisível que atingi não transborda. Sensação de um eterno vazio, que se preenche de ruminações e obsessões. Num fractal ilógico, conexões até então presentes, são desfeitas, subitamente. A perda da continuidade floreia. A falta surpreende, enche o peito, queima por dentro. O fogo constante que incendeia e carboniza, deixa cinzas pela trilha. As pernas atáxicas e inquietas, o gozo da tristeza pelejando pela face de encontro a saudosos lábios marejados. A vontade constante da viagem temporal culmina na psicotização daquilo que poderia sim. O pensamento delirante entrecortado por lapsos de sobriedade confunde o límbico, que extravasa remorso e mutilações. E neste dogma criado internamente, os pedaços do que já fui se dissolvem com os olhos que essa terra há de comer.

12 de janeiro de 2022

Sentimento emaranhado

A barriga cheia de palavras embaralhadas,

Que comprimem mecanicamente qualquer fluxo até então vigente,

Isquemia e, por conseguinte,

Necrosa a volição.


O nó faríngeo deglutido,

Que permanece intocado,

Inabilita qualquer sentido.


As palavras sofrendo para serem ditas,

Tentando expressar algo reprimido,

Violam o cerne íntimo.


A monotonia deflagrada,

Inusitada,

Postulada,

Escorre,

E me mostra que sozinho,

A vida não faz sentido.


Enquanto aguardo em silenciosa sofreguidão,

Esperando melancolicamente o tempo passar,

Vou romoendo todo sentimento,

Todo desejo,

De dizer o que anseio,

A quem anseio,

O que não disse antes.


7 de janeiro de 2022

Me perdi em mim

As nuances da intempestividade mental

Sopram como tufão.

Os ventos nórdicos sequelam e congelam,

A tonteira se instala,

Confusão mental,

Distorção irreal do interno,

Que não se conhece, 

E se mutila sem saber,

Até que a carne já podre,

Se dissolve.


O erro de se achar suficiente,

De achar que a vida vai levando sem se preocupar

Com o amanhã.

Mas o amanhã chega,

Você se encontra perdido,

Num bosque cheio de vivências,

Desorganizadas,

Completas de um vazio gritante.


Confrontado, sem opção, assim achava,

Deixei o amanhã ir, sem pensar em nada.

No bem que o amanhã sólido me traz,

Na satisfação que me da.

E ao me ver sem nada,

A intempestividade domina,

Cega,

E acaba com qualquer certeza que um dia tinha.

3 de janeiro de 2022

Labirinto solitário


As vezes na calada do dia

As palavras turbulentas de um longo dia corrido

Pelas estreitas vielas que percorri

Pelos bilhões de grãos que roçam entre si

Um mero riso ou palavra de alento

O que é precioso

Visível,

Amável,

Se choca.

Transmuta apatia

Dilata a dor 

E de uma forma nunca antes sentida

Se completa.


As vezes pelo passar do tempo as coisas renovem,

O sentimento retorne,

Na plenitude

Incompleta.

Mas escancara e derrama

Desprezo

Sem peso na consciência,

Sem titubear.


E as palavras embargadas vomitadas

Sem sentido,

Sem conseguir,

De forma alguma,

Expressar o sentimento.


Nesse jogo incessante, que há 30 anos venho jogando,

Sozinho,

Ainda não descobri quem sou,

O que sentir,

Como expressar,

Como saber se o que sinto é o que sinto,

Ou o que queria sentir.


Nesse labirinto salgado

Que escorre pelo zigomático,

Com olheiras cinzentas,

Nariz ruborizado,

As junções mentais se confundem,

E trucidam qualquer sentimento.


Mas que sentimento?

Se me disseram que não tenho nenhum?

Aquele guardado,

Protegido,

Pela carcaça dura

Escura

Que parece indestrutível

Mas esconde uma terrível,

Grande,

Incontrolável,

Sensibilidade