31 de dezembro de 2011

Onze, doze, que assim seja


Um onze de mudanças e grandes descobertas.
Descobri que o mundo gira e não me da as costas,
Descobri que se lutar vou alcançar o meu mérito
E que quando os meus desejos pareciam impossíveis,
Descobri que o impossível é a criação de um pessimista.

Um onze de alegria por ter encontrado novas faces,
De ter visto novos ângulos em novas perspectivas,
De poder dizer que eu pulei e chutei certos obstáculos,
E que este ano foi um ótimo ano.

Um doze de enormes euforias e repleto de audácia,
De gigantes adormecidos que possam esbanjar felicidade.
De um grito que vai ser lançado a todos.

Um doze de mudanças de caráter, sempre bem vindas,
De frutos plantados no passaso passageiro chamado onze.
Um doze de tudo que eu posso, de tudo que todos podem.

Um belo doze.

24 de novembro de 2011

Um outro Werther

Sou como o Werther, só que ao contrário. Vivi num opróbio, não minto, mas hoje rio de seu frontispício. Não choro, nem me matarei por sua causa. Carlota, querida, você não é nada comparado ao que foi um dia. Que vergonha. Teu simulacro descabelado e desdenhoso. Quanta vergonha! E finge que vive numa perfeita vida, mentirosa! Sua falsa, dizia que amava a todos, que injúria. Não me importo, sua tola.

Perniciosa e boba, sente como se fosse a única. Você é única, como sou. Cai, levanta, e finge que nada aconteceu. Medonha. Nessa sua empáfia escaldante e cínica, você canta. Melodias secas e tristes, que nem significados têm.

Morosa, tenebrosa, de verdade. Sou um monstro, como tu és. Todos somos, não é? Na bagana que teu vil insiste em me queimar, vou-me rindo, de vocês. Adernado, levantado, liquidado e lampejado sigo o longo caminho que me espera. Guiando-me para uma relva de sinecuras antagônicas. Eu espero, pacientemente, enquanto ando passos largos por trilhas curtas e estreitas, como teu coração, rançoso.

10 de novembro de 2011

A perna da formiga em pó.

Indaguei se ela estava voando. Não estava, formigas não voam. Perguntei-a se vinha todos os dias ao mesmo lugar. Balançou. Jussara, como a denominavam, dançava e curtia seus passos numa euforia estonteante. Seu protótipo de vida animal não combinava com sua real alma humana. Mas ela era uma formiga. Seu desejo sempre foi dançar com seus pés, e não suas patas. Ensaia e rebola sua bunda como qualquer outra mulher.

Jussara ficara feliz por eu ter rompido, mais uma vez, seu escudo de quitina. Que coitada, pensava que eu era um gênio. Telepaticamente, disse-lhe: Sou humano Jussara, algo que nunca serás! - neste momento, eu vi, saltaram-lhe 3 lágrimas de seja lá onde for.

E o mito sobre formigas. Não tenho coragem de comê-las. São tão inocentes e tão espontâneas, que risivelmente eu lhes aprecio sobre seu habitat tão incabível nessa estrutura social em que vivem. Pobre operária, vive as custa de uma sociedade dividida em castas. Sofre.

Dança, como se fosse ontem, ou como será amanhã. Saltita sobre a perna de uma outra formiga. Ela ri. Alienada e sufocada pela ridicularização da sua função no regimento da estrutura na qual todas formigas de sua colônia vivem, fingem que vivem. Só sobrevive, numa sobrevida desmantelada e cauterizada pelos ardentes raios de sol que invadem e queimam sua pele. Que pele?

Nessa louca divisão de tarefas ela se vê mais atarefada do que todas suas símiles. Pobre, como é, vive na clandestinidade de roubar poucos suprimentos que deveriam ir pra casa de todas. Ela mente e corrói o sistema, que já esta enferrujado.

Enquanto Ju - para os íntimos - morre de desejo de apodrecer rapidamente, a Rainha goza e esbanja seu prazer nas relações que mantêm para construir e reconstituir uma colônia perdida pela miséria. A miséria de uma geração depredada pela repressão. Jussara será eliminada e excomungada da instituição Formigreja, onde a Rainha, absoluta, comanda o Estado do formigueiro.

E neste ciclo dogmático em que a protagonista vive, ela se sente, verdadeiramente, como um humano. Com seus pensamentos, é reprimida, tornando-se vítima de um sistema vigente excludente e privado. Oligárquico e conservador. Elitista, como a Rainha.

Enquanto isso, as pernas, ou patas, de Jussara vão falecendo e se tornando pó. Pó, o que nós todos viraremos.

3 de novembro de 2011

Axioma enfadado pela abolição dos miseráveis!

A poesia que lhes escrevo, não é nada perto do que sinto.
As palavras que aqui recito tentam transmitir o meu íntimo.
As rimas, que não rimam, fazem parte de um todo infinito.
Nesses pontos pressupostos, hoje vejo que são críveis.

No moroso dia que vivo, vou seguindo meu instinto,
Sou calado como o vento, vou-me ínfimo.
Na nuca que preservo sinto o cheiro do seu hálito.
Saiba que todos são sensíveis, invisíveis, como tu.

Sou, somos, serei, como tu foi, como eu sou, como nós seremos,
Um dia juntos. Enveredando nessa passagem e gargalhando de toda folhagem!
Sentimento um dia tão rico, hoje tão miserável, não somos sós.
Somos todos juntos, num só espaço de mãos dadas, num só caminho, vil.

E o mundo tão caído, cheio de cansados e todos enfermos.
Procuram um pardacento bosque de pardacentas criaturas, elas fogem.
'O tempo passa e as pessoas continuam as mesmas', mesmas como os nós,
Que vivemos, que buscamos, que clamamos em dizer que não são nossos, estamos senis.

Senilidade atingída por uma massa perseguida pela mentira da sociedade.
Senilidade lapidada por pessoas de uma falsa comunidade.
Senilidade incentivada pela elite qualificada.
Senilidade alcançada por todos cantos da cidade. Que injúria.

Axiomas que persistem em ser rogados pela Igreja.
Premissas jogadas aos ventos e germinadas por cabeças fracas.
Mais uma vez uma massa explorada, como os escravos.
Queremos e exigimos uma nova abolição, uma carta de alforria.

Nessa máxima sentença que vivemos, procuramos a cortesia de poucos
Que dominam, e tornam-nos alienados como poucos, ou muitos.
Sub-existimos e sobrevivemos nessa nova fase seletiva, em que poucos sairão.
Sairemos por essa, portentosos por nossa enfadonha façanha! Que loucura!

24 de outubro de 2011

Sou eu, Sou eu!


E persistir num limite sem procurar outro é burrice,
Mas é uma burrice que não consigo entender nem ultrapassar.
O limite que cheguei, ninguém entende, nem nunca entenderá,
Só eu sei quanto fiz para chegar ao meu lugar, ninguem nunca saberá.

Em conjunto, tantas incertezas rondadas por eternas discussões,
Vou lutando contra o mal que a pressão vem me causando e
Tentando prosseguir nessa tarefa que é a vida.

Sendo um bobo, sendo um tolo, grosso ou ignorante,
Sendo desiludido, não entendido até mentido.

E quando a Morte passageira passar, não esquecerei de gritar:
- Sou eu! Sou eu!

3 de outubro de 2011

Uma carta perdida

Agradecimentos.


Hoje, trinta de janeiro de 1998, irradio o que jamais senti, ou se senti não expus: a gratidão. Pela minha mãe, Elvira. Você se foi a três anos e meio, mas, verdadeiramente, agradeço todo ensinamento e cada riso que me destes. Você, a mulher mais importante da minha vida, partiu sem ver-me passar no vestibular e não me verá formado. Grato estou, também, por acreditar que olhas daí de cima, e me apóia.


Agradeço também a meu irmão, meu gêmeo inconfidente. Somos diferentes, você de um lado eu d’outro, mas sei que tenho somente que te amar e dedicar um pouco desse sentimento que estou experimentando. Não sei por que és tão afastado de mim e do mundo. Não me importa.


Hoje completo e ultrapasso uma nova etapa de minha vida, que está apenas começando e, daqui por diante, não terá fim. Até minha morte (que será longínqua, assim espero). Ao fim de cada dia, ou noite, deito-me sobre meu travesseiro e rio, gargalho e divirto-me com minha consciência limpa, buscando relembrar memórias escondidas.


Acabei por achar a mais remota lembrança, e envolve meu irmão. Lembra-se, Victorio, quando fomos pela primeira vez ao zoológico? Tínhamos por volta de 7 anos. Eu ia à frente de todos, imitando o guia e todos os animais que passavam por perto, enquanto você estava emburrado com tamanha ociosidade. Eis que você, no meio do passeio, despistou a família.


Mamãe entrou em pânico ao ver que tínhamos te esquecido em algum canto daquele enorme parque. Procuramos por todos os lados, chamamos seguranças e ninguém achava você. Mamãe cogitou estupro, seqüestro, morte e todas as mazelas presentes nesse mundo. O que ela não imaginava era, porém, que seu filho estivesse sentado na frente de nosso carro no estacionamento, lendo seu gibi da Mônica. Quanto você apanhou aquele dia, não é? Apanhou sim, mas orgulhoso como és, derramou meia dúzia de lágrimas, silenciosas. Como eu queria suportar a dor que você consegue!


Agradeço também à mulher que amei e me fez feliz . Espero que, apesar de me desprezar (o que é pior que o ódio), você entenda a grandiosidade de tudo que passou entre nós. Os momentos que rimos e gritamos um com outro. A alegria que um dia semeamos, com toda a certeza, dará frutos, e muitos. Você foi e sempre será a primeira. Que me fez feliz. Que me acompanhou nas dificuldades. Que me amparou quando eu soluçava. Obrigado Maria!


E por último agradeço a Ti, o grande que, mais que tudo e todos, ajudou-me interna e externamente. Você que me amou nos momentos que te abandonei e me acariciou quando a única presença que eu desejava era a minha. Obrigado por ser tão abstrato e completo como és. Obrigado, meu Deus.


Assinado: Victor Beltrão

24 de setembro de 2011

A morte de um flagelo

Lembro-me como se fosse anteontem. Contava doze anos e Maria Cecília me parecia muito apetitosa – não sexualmente, presumo – e eu encarava-a e transpirava com nossa troca de olhares. Recordo-me de sua saia curta e escarlate, mas tão curta que cobria, no máximo, um terço de suas pernas. Lembro-me como se fosse anteontem. Sua blusa, então, mostrava suas protuberâncias exageradas e precoces. Seu colo revestido por uma pele macia e agradável.

Olhei e ri e ela riu de volta, com aquela malícia cigana, como a devassa Capitu, que mulher! Seus lábios finos e sua face apimentada eriçavam-me loucamente. Era o intervalo, ou recreio, como diziam os outros, e eu sentado, admirando aquela robustez intrigante. A pureza da menina me encantava e eu continuava a presenciar tamanha nitidez em seu olhar.

Percebi, para minha infelicidade, que Maria não me encarava com toda malícia que pensei. Na verdade, tudo relatado foi criação de uma mente enlouquecida de amor. Um amor contido. Os cinco minutos que fantasiei a reciprocidade da moça, gozei ao imaginar que uma menina, digo, mulher, olhava para mim.

Voltei para a aula, era quinta feira, lembro-me como se fosse anteontem. Meu irmão gêmeo, bi vitelínico, graças à Natureza, chamava atenção com sua espontaneidade infantil. Todas riam e babavam acefalicamente por ele. Irmão estúpido e popular, que cultivava a amizade de todos. Todos falsos!

Seu nome era Victor, e perdão pela indelicadeza, sou Victorio. Victor falava desde os onze meses e eu só comecei a balbuciar depois de um ano da falação dele. Claro que não me recordo, sei pelo prazer contínuo que minha mãe tem em pregar a minha incapacidade perante meu gêmeo diferente.

Todos o acariciavam, beijavam-no, cantavam-lhe músicas para uma instantânea reprodução mal feita. Eu olhava, invejava toda a atenção e carinho. Disso lembro-me como se fosse o dia antes de anteontem. Acho que minha percepção do tempo está um tanto imprecisa.

Receio dizer-lhes, porém, que estou no fim da minha breve existência, com míseros 37 anos desperdiçados pela minha sobrevida fatigada por um irmão egocêntrico e por uma família seletiva. É o Determinismo da vida, a Seleção Natural, afinal, quem foi o precursor do maldito “Darwinismo Social”?

Sinto dizer-lhes que minha não tênue ascensão emocional imergiu tão rápido quanto emergiu um dia. Aquela menina que lhes descrevi morreu semana passada, lembro-me como se tivessem passado algumas horas. Foi tudo rápido e triste.

Casei-me com ela de modo tão fantástico quanto nossas primeiras trocas de olhares, que julgava serem incríveis. Verossímil, entretanto, é a palavra que define nosso relacionamento.

Não sei precisar quando nos falamos ou começamos a buscar e cultivar o gozo um do outro. Foram meses, ou um ano, de sossego e ganância de minha parte. Eu quero, ou queria, ela só para mim. Foi nesse passageiro momento que minha vida fez sentido. Meu rosto, imberbe e pouco flácido, contrastava com sua maturidade facial. Era uma mulher, deusa, uma espartana digna.

Pois bem, ela morreu, de câncer. Sofreu como uma coitada. Mentira, não era coitada. Mulher de fibra, mais homem que eu. Porque, então, sua morte foi necessária? E do mesmo modo que a pergunta surgiu em meu subconsciente a resposta abriu minha mente:
- Você está vivo, isso importa!

Lembrei-me novamente de Victor. Está morto também. Tinha acabado de entrar na faculdade de Direito. Morreu afogado na piscina de uma casa, durante uma festa. Pergunto-me constantemente aonde se escondeu toda sua prodigalidade no momento que, estupidamente, bebeu até a morte? Gostaria de ver o espanto no rosto de minha mãe, mas ela morreu antes dele. Todos morreram, sobrei eu e apenas o meu outro eu. O meu gêmeo idealizado e que foi o meu único amor. Na verdade, meu único amor foi Maria Cecília. Ainda a amo.

Como morreu minha mãe? Não sei bem, desgosto, suponho, por ter um Victorio como sua prole. Nunca segui os passos de Victor, nunca fui alguém como ele, nem na aparência. Meu pai? Não conheci, e ele, provavelmente, amaria e idolatraria Victor muito mais que eu, como todos. Eu fui eu e continuarei assim até.

E morro narrando-lhes as passagens mais importantes da minha vida. Infeliz sigo pensando que a morte será a cura para um dia não lembrar como vivi. Um dia. A única, e repito, a única lembrança que jamais esquecerei, independente da minha percepção temporal, será a de Maria Cecília. Que mulher! E ela se foi com o ar que vai embora dos meus alvéolos. Morro lentamente, flagelado e sufocado em minha angústia solitária.

2 de fevereiro de 2011

Grato pelos elogios

'Você é um vagabundo, ordinário'
Obrigado.
'Você não é o mesmo em todos os lugares'
Não sou mesmo, você é?

Não importa o que digam, eu sou eu.
Não importa ser um nada, por enquanto.
Um dia as coisas vão mudar.
Seriamente.
Você vai ver, vai perceber.