10 de novembro de 2011

A perna da formiga em pó.

Indaguei se ela estava voando. Não estava, formigas não voam. Perguntei-a se vinha todos os dias ao mesmo lugar. Balançou. Jussara, como a denominavam, dançava e curtia seus passos numa euforia estonteante. Seu protótipo de vida animal não combinava com sua real alma humana. Mas ela era uma formiga. Seu desejo sempre foi dançar com seus pés, e não suas patas. Ensaia e rebola sua bunda como qualquer outra mulher.

Jussara ficara feliz por eu ter rompido, mais uma vez, seu escudo de quitina. Que coitada, pensava que eu era um gênio. Telepaticamente, disse-lhe: Sou humano Jussara, algo que nunca serás! - neste momento, eu vi, saltaram-lhe 3 lágrimas de seja lá onde for.

E o mito sobre formigas. Não tenho coragem de comê-las. São tão inocentes e tão espontâneas, que risivelmente eu lhes aprecio sobre seu habitat tão incabível nessa estrutura social em que vivem. Pobre operária, vive as custa de uma sociedade dividida em castas. Sofre.

Dança, como se fosse ontem, ou como será amanhã. Saltita sobre a perna de uma outra formiga. Ela ri. Alienada e sufocada pela ridicularização da sua função no regimento da estrutura na qual todas formigas de sua colônia vivem, fingem que vivem. Só sobrevive, numa sobrevida desmantelada e cauterizada pelos ardentes raios de sol que invadem e queimam sua pele. Que pele?

Nessa louca divisão de tarefas ela se vê mais atarefada do que todas suas símiles. Pobre, como é, vive na clandestinidade de roubar poucos suprimentos que deveriam ir pra casa de todas. Ela mente e corrói o sistema, que já esta enferrujado.

Enquanto Ju - para os íntimos - morre de desejo de apodrecer rapidamente, a Rainha goza e esbanja seu prazer nas relações que mantêm para construir e reconstituir uma colônia perdida pela miséria. A miséria de uma geração depredada pela repressão. Jussara será eliminada e excomungada da instituição Formigreja, onde a Rainha, absoluta, comanda o Estado do formigueiro.

E neste ciclo dogmático em que a protagonista vive, ela se sente, verdadeiramente, como um humano. Com seus pensamentos, é reprimida, tornando-se vítima de um sistema vigente excludente e privado. Oligárquico e conservador. Elitista, como a Rainha.

Enquanto isso, as pernas, ou patas, de Jussara vão falecendo e se tornando pó. Pó, o que nós todos viraremos.

Um comentário:

  1. Nossa! Foi a primeira palavra que veio a minha cabeça.Depois,subitamente,fui levada por diversas interpretações a ponto de pensar que estava lendo uma obra de um autor bem renomado,com seus livros já publicados! Pois é,ainda não o é.A vantagem que tiro disso,é que posso perguntar de onde foi a inspiração,o que ele diz com esse texto tão subjetivo,afinal,(ainda bem) ele não está morto,o que inviabilizaria as respostas. Parabéns,tutu! =) cade vez mais "mundano" ps: já pulou a fase pessoal,na qual ainda me aprisiono rs...são fases,apenas fases,das quais tiraremos uma baita lição! besitos!

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