13 de abril de 2013

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

24 de fevereiro de 2013

Uma história para ler ao som de Cordão


Nessa estado pós transcendental, me pego preso na seguinte dúvida: O que faz ser o que somos?

Pensamentos um pouco largados, ideias um pouco distorcidas, premissas um pouco ultrapassadas.
Somos a mistura do mistério da genética e a clareza do ambiente. De modos tão ambíguos, este com o macro-mundo da Terra e aquele com o micro-mundo humano.
Por serem tão ambíguos se tornam impossível de se separarem. Como a matéria e anti-matéria, ou o proton e elétron. E por não se separam se tornaram irmãs.
A irmandade criada por duas coisas tão distintas, culminou na vida das duas, gêmeas: Maria e Arlete.
Maria era a introspecção encarnada em pessoa, enquanto Arlete era a diversão, de modo que as duas se anulavam ou se integravam, como mais e menos.
Aos 20 anos Maria entrou para a faculdade, não se divertia, não gostava, não gozava.
Aos 20 anos, Arlete bebida, fumava e era o que quer ela queria que fosse. Gozava da vida, das pessoas, de suas próprias gozadas.
Maria se casou com o primeiro namorado,  casou, virgem, e pegou AIDS em sua primeira relação. Seu primeiro namorado é para outra história.
Arlete vivia espontaneamente, momentaneamente no presente que se tornou passado. Arlete bebia e fumava.
Com 36 invernos, Maria morreu, só. Não tivera filhos e não espalharia sua, então, genética.
Com 36 primaveras, Arlete se alterou, renunciou, brigou, gritou, amou e, por fim, entornou-se em um ambiente confortável para seu ego.
Arlete viveu 87 longos e bonitos anos, com muita beleza e muita tristeza, mas trazendo ao mundo a realidade ambiental em que ela viveu. Morreu bebendo e fumando.

Nessa viagem momentânea sobre a história de Maria e Arlete, passamos pela história do marido de Maria, José. Seja por algo ou não, José morreu no aniversário de dez ano da transa com Maria.
Entretanto, analisando a história social das duas personagens, percebe-se que a vida é dividida entre o micro e o macroambiente, de modo que cada um  influencia as pessoas de uma maneira.
A racionalidade e introspecção personificados na efígie de Maria, mostra a vida baseada na genética e na irrealidade que um preceito divino e surreal trazem ao mundo.
Enquanto o axioma trazido por Arlete, transmitidos pela emoção, extroversão e realidade explana a verdade sobre a vida influenciada pelo ambiente. Todas qualidades e defeitos introjetados por ela, construíram sua personalidade: os prédios, a fumaça, o álcool, o amor, a guerra e toda a história que um dia será revelada.

3 de fevereiro de 2013

Seja como for

Seja assim, você mesmo.
Seja seu, seja eu, seja o que quer que seja.
Seja, seje, sois, sóis.
Seja o sol da tarde,
A lua da tarde,
A calmaria que uma tarde "enluarada" nos traz.

Seja a correnteza do rio,
Seja a foz de um rio,
Em delta, gama ou beta.
Seja a leveza de uma carpa contra a correnteza em beta.

Seja a montanha rígida,
Modifica-se constantemente,
Cresce, é erodida, cresce, cresce, mas é erodida.
Doentia vontade de crescer, sua vontade de ser, o que quer que seja.

Um vermelho que transborda os olhos
Seja o vermelho que levanta nas manhãs e se deita pelas tardes.
O vermelho que corre e inflama e ruboriza, e se torna parte de nós.

Seja apenas a vontade de ser,
Ser tu mesmo, não importa o seja ou o seje,
Sem importar se cê ja errou a grafia.
Sem importar, apenas sendo, seja como for.

9 de janeiro de 2013

Grato pelos elogios

Em tempo de calmaria, me resta fazer relembrar um texto, que se encaixa perfeitamente a esse momento.

'Você é um vagabundo, ordinário'
Obrigado.
'Você não é o mesmo em todos os lugares'
Não sou mesmo, você é?

Não importa o que digam, eu sou eu.
Não importa ser um nada, por enquanto.
Um dia as coisas vão mudar.
Seriamente.
Você vai ver, vai perceber.