24 de novembro de 2011

Um outro Werther

Sou como o Werther, só que ao contrário. Vivi num opróbio, não minto, mas hoje rio de seu frontispício. Não choro, nem me matarei por sua causa. Carlota, querida, você não é nada comparado ao que foi um dia. Que vergonha. Teu simulacro descabelado e desdenhoso. Quanta vergonha! E finge que vive numa perfeita vida, mentirosa! Sua falsa, dizia que amava a todos, que injúria. Não me importo, sua tola.

Perniciosa e boba, sente como se fosse a única. Você é única, como sou. Cai, levanta, e finge que nada aconteceu. Medonha. Nessa sua empáfia escaldante e cínica, você canta. Melodias secas e tristes, que nem significados têm.

Morosa, tenebrosa, de verdade. Sou um monstro, como tu és. Todos somos, não é? Na bagana que teu vil insiste em me queimar, vou-me rindo, de vocês. Adernado, levantado, liquidado e lampejado sigo o longo caminho que me espera. Guiando-me para uma relva de sinecuras antagônicas. Eu espero, pacientemente, enquanto ando passos largos por trilhas curtas e estreitas, como teu coração, rançoso.

10 de novembro de 2011

A perna da formiga em pó.

Indaguei se ela estava voando. Não estava, formigas não voam. Perguntei-a se vinha todos os dias ao mesmo lugar. Balançou. Jussara, como a denominavam, dançava e curtia seus passos numa euforia estonteante. Seu protótipo de vida animal não combinava com sua real alma humana. Mas ela era uma formiga. Seu desejo sempre foi dançar com seus pés, e não suas patas. Ensaia e rebola sua bunda como qualquer outra mulher.

Jussara ficara feliz por eu ter rompido, mais uma vez, seu escudo de quitina. Que coitada, pensava que eu era um gênio. Telepaticamente, disse-lhe: Sou humano Jussara, algo que nunca serás! - neste momento, eu vi, saltaram-lhe 3 lágrimas de seja lá onde for.

E o mito sobre formigas. Não tenho coragem de comê-las. São tão inocentes e tão espontâneas, que risivelmente eu lhes aprecio sobre seu habitat tão incabível nessa estrutura social em que vivem. Pobre operária, vive as custa de uma sociedade dividida em castas. Sofre.

Dança, como se fosse ontem, ou como será amanhã. Saltita sobre a perna de uma outra formiga. Ela ri. Alienada e sufocada pela ridicularização da sua função no regimento da estrutura na qual todas formigas de sua colônia vivem, fingem que vivem. Só sobrevive, numa sobrevida desmantelada e cauterizada pelos ardentes raios de sol que invadem e queimam sua pele. Que pele?

Nessa louca divisão de tarefas ela se vê mais atarefada do que todas suas símiles. Pobre, como é, vive na clandestinidade de roubar poucos suprimentos que deveriam ir pra casa de todas. Ela mente e corrói o sistema, que já esta enferrujado.

Enquanto Ju - para os íntimos - morre de desejo de apodrecer rapidamente, a Rainha goza e esbanja seu prazer nas relações que mantêm para construir e reconstituir uma colônia perdida pela miséria. A miséria de uma geração depredada pela repressão. Jussara será eliminada e excomungada da instituição Formigreja, onde a Rainha, absoluta, comanda o Estado do formigueiro.

E neste ciclo dogmático em que a protagonista vive, ela se sente, verdadeiramente, como um humano. Com seus pensamentos, é reprimida, tornando-se vítima de um sistema vigente excludente e privado. Oligárquico e conservador. Elitista, como a Rainha.

Enquanto isso, as pernas, ou patas, de Jussara vão falecendo e se tornando pó. Pó, o que nós todos viraremos.

3 de novembro de 2011

Axioma enfadado pela abolição dos miseráveis!

A poesia que lhes escrevo, não é nada perto do que sinto.
As palavras que aqui recito tentam transmitir o meu íntimo.
As rimas, que não rimam, fazem parte de um todo infinito.
Nesses pontos pressupostos, hoje vejo que são críveis.

No moroso dia que vivo, vou seguindo meu instinto,
Sou calado como o vento, vou-me ínfimo.
Na nuca que preservo sinto o cheiro do seu hálito.
Saiba que todos são sensíveis, invisíveis, como tu.

Sou, somos, serei, como tu foi, como eu sou, como nós seremos,
Um dia juntos. Enveredando nessa passagem e gargalhando de toda folhagem!
Sentimento um dia tão rico, hoje tão miserável, não somos sós.
Somos todos juntos, num só espaço de mãos dadas, num só caminho, vil.

E o mundo tão caído, cheio de cansados e todos enfermos.
Procuram um pardacento bosque de pardacentas criaturas, elas fogem.
'O tempo passa e as pessoas continuam as mesmas', mesmas como os nós,
Que vivemos, que buscamos, que clamamos em dizer que não são nossos, estamos senis.

Senilidade atingída por uma massa perseguida pela mentira da sociedade.
Senilidade lapidada por pessoas de uma falsa comunidade.
Senilidade incentivada pela elite qualificada.
Senilidade alcançada por todos cantos da cidade. Que injúria.

Axiomas que persistem em ser rogados pela Igreja.
Premissas jogadas aos ventos e germinadas por cabeças fracas.
Mais uma vez uma massa explorada, como os escravos.
Queremos e exigimos uma nova abolição, uma carta de alforria.

Nessa máxima sentença que vivemos, procuramos a cortesia de poucos
Que dominam, e tornam-nos alienados como poucos, ou muitos.
Sub-existimos e sobrevivemos nessa nova fase seletiva, em que poucos sairão.
Sairemos por essa, portentosos por nossa enfadonha façanha! Que loucura!