9 de fevereiro de 2022

Roubou minha maresia

Ganhei um verso de um cara qualquer pela rua. Eram versos que se encaixavam, misturavam e integravam em meu corpo. Os dias passaram e em todos eles eu lia. E lembro como se fosse ontem o desejo de estar com ele. As palavras me abraçaram, envolveram, instigaram. Parece que tinham sido escritas pra mim. Tenho problema de memória por isso não decorei as letras. Poderia passar o tempo todo aficionado nessa obra que se encaixou comigo. Me fazia completo, sem eu saber que faltava algo. 

Fui pra praia saborear a brisa da maresia e contemplar as ondas quebrando, o sol se pondo, as pessoas passando. Levei junto comigo. O poema que admirava tanto. Peguei pra ler mas me escapou dos dedos. A maresia molhada tragou a folha. Levou pras ondas, quebrando em cântico. E eu fiquei exasperado, desconcertado e indignado. Perdi o pouco que tinha, os versos completos, as palavras envolventes, os gestos de carinho. Mas sentei na praia aguardando o mar recitar novamente os versos que eu amei. Esperançoso, de um dia, sentir tais palavras me rondando. Me dizendo que tá tudo bem.

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