22 de fevereiro de 2022

O sabiá que não sabia voar

A gaiola escancarou e o sabiá voou. A aparente forte construção num rajado se desfez. O pássaro então percebeu a liberdade. Por um momento ficou ressabiado, não queria acreditar. Piou a procura de sua proteção, mas percebeu que quem protegia o prendia. O sabiá achava que sabia sobre as coisas do mundo. Mas seu mundo era a gaiola. Ao sobrevoar seu primeiro voo livre observou que seu mundo não existia. Ou se existia era apenas uma construção da sua mente reclusa. Percebeu novas casas, árvores, pássaros e ninhos. Mas queria achar o que era pra ser seu. O seu lugar, o seu pensar o seu ser. No fundo o sabiá sabia o que era, só não tinha percebido sua autonomia pelas celas da gaiola que o prendia.

Cantou em alto e bom som os versos livres marcados a ferro e fogo na gaiola: 


“Me deixe livre, então,

Assim minhas asas voltarão,

Pra mais uma vez te sobrevoar”


Foi quando entendeu o significado da liberdade, imaginando o dia do sobrevoo por entre escombros aprisionados.

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