30 de maio de 2022

Aniversário de um novo eixo

Chegou rápido, sorrateiro,

Transbordou e revirou,

Largou um caos no meu.

E me deixou.


Achava só levar,

Pensava não querer,

Escondido eu tentei

Até o fecho que tomei.


Num infinito rebuliço,

Recobrando a realidade

Dos sentimentos escondidos,

Eclodi.


E nessa nova erupção,

Acordada, conversada,

Conservamos o que sentimos.


A translação clareou,

Aflorou

E me mostrou,

Os desentendimentos de uma mente em completo descompasso.

10 de março de 2022

Plena eclosão em rebuliço

A vontade gritando eclodiu,

Nasceu um fruto belo e vistoso,

Emergido de um peito cansado, 

Sugado,

Mas feliz em perceber que o fruto doce desabrochou uma vontade ímpar.


Achava não ter mais volta,

Achava ter perdido a batalha,

Achava que não acharia mais nada

Nem ninguém,

E assim foi.

Não nego que tentei, 

Mas a única forma que me encaixa é a tua.


O rebuliço miscigenado traz de volta sensações hibernadas,

A ansiedade não tem fim, claro.

São alvos diferentes agora?

São os mesmos. 

Só que serenamente lidados,

Internamente enclausurados,

Escondidos,

Repreendidos,

Pelo sentimento de plenitude.


A marcha se faz compassada

Ou não tem jeito.

Então marcho em cadência,

Seguindo e pisando, diariamente, 

Na certa seta que me guia.


E pela batalha travada,

Conquistada,

A luz do olhar volta a brilhar,

O sorriso escondido da lugar a gargalhadas,

A vontade isolada, agora em comunhão,

Deixa de ruminação.

E eu me vejo são

Enquanto o fruto belo permanecer em eclosão.

22 de fevereiro de 2022

O sabiá que não sabia voar

A gaiola escancarou e o sabiá voou. A aparente forte construção num rajado se desfez. O pássaro então percebeu a liberdade. Por um momento ficou ressabiado, não queria acreditar. Piou a procura de sua proteção, mas percebeu que quem protegia o prendia. O sabiá achava que sabia sobre as coisas do mundo. Mas seu mundo era a gaiola. Ao sobrevoar seu primeiro voo livre observou que seu mundo não existia. Ou se existia era apenas uma construção da sua mente reclusa. Percebeu novas casas, árvores, pássaros e ninhos. Mas queria achar o que era pra ser seu. O seu lugar, o seu pensar o seu ser. No fundo o sabiá sabia o que era, só não tinha percebido sua autonomia pelas celas da gaiola que o prendia.

Cantou em alto e bom som os versos livres marcados a ferro e fogo na gaiola: 


“Me deixe livre, então,

Assim minhas asas voltarão,

Pra mais uma vez te sobrevoar”


Foi quando entendeu o significado da liberdade, imaginando o dia do sobrevoo por entre escombros aprisionados.

18 de fevereiro de 2022

Tem quem quer?

Sabe que tem.

Ninguém

Tem 

Nada.


Sabe se o teu

Que já foi meu

Interno e complexo

No peito eterno

Cessou?


Até então

Se o caos deixar

Sublimar

Sozinho

Eu vou.


Senti

Sem fim

Sumi

De mim

Enfim, de ti.


Queria, sim.

Estive

Pensando,

Mas acho que não

Sei lá.


Deixei

Fluir

Sem saber,

Porém,

O que vem.

Mas foi sem fim

Pra mim.

17 de fevereiro de 2022

Os sentidos hígidos

Sabe-se la de que jeito parece que os segundos rolaram. O silencio já não contorce, o monótono já não enfatiza todos sentimentos aflorados, a distância já não imobiliza. Não minto que gostaria da antiga opção, me fez bem, mas a insistência me soa humilhante. Não quero repetir antigos reflexos, de outros, em meu futuro. Não quero internalizar o que senti com outros e introjetar naquele essas sensações. Não vou. 

Os dias parecem ter voltado ao seu tempo normal, a náusea já não crucifica, a angústia está desnutrida e a vontade gritante da preguiça se faz ausente. Tento recobrar os sentidos, o tato, mesmo solitário, permanece inalterado, a visão, já não borrada, observa todos cantos, o cheiro já não percorre mais em mim e seu sabor eu já esqueci. Ou não. 

Mas o sexto sentido permanece ali. Enclausurado, esperançoso de um dia reviver o que vivi.